Monday, July 27, 2009

Business cards

Nesta região os cartões são quase todos "dupla face"; de um lado tudo escrito em alfabeto latino e do outro em árabe. O meu é diferente pois trabalho num ambiente cristão então pus aqui um cartão qualquer (o Rabih não deixou eu exibir o dele; eta mania de não ser aparecido).



Tuesday, July 21, 2009

Bem piegas : Era Uma Vez...

Ontem saímos com novos amigos e como é de praxe entre pessoas que mal conversaram na vida perguntaram para mim e ao Rabih como nos conhecemos...

(versão simplificada)

Quando me mudei para Paris en janeiro de 2007 para um ano sabático o Rabih já morava lá fazia 17 anos. Após algumas semanas da minha mudança nos cruzamos pela primeira vez num jantar de aniversário de uma amiga em comum e neste encontro ficou claro que não gostamos nada um do outro. Ele me achou uma menininha mimada e superficial cheia de histórias para contar e pra mim ele não passava de um libanês narigudo e careca  fino que nem um mosquito.

Durante alguns meses saímos mais algumas vezes no mesmo grupo de amigos e um dia senti este click dentro de mim; era tarde, eu já estava apaixonada e o narigudo nem chum! pra mim. Diz ele que nunca demonstrei meu interesse mas eu não acredito. Após 6 meses do jantar de aniversário ele se mudou para Bahrain e eu fiquei arrasada com o coração partido e quando concluí meu curso na Sorbonne resolvi voltar para o Brasil.

Trocamos emails durantes uns 6 meses e eu tinha cada vez mais certeza que eu gostava dele, pra ser mais exata eu era louca por ele. Os emails eram os mais simples possíveis e meus amigos achavam que eu tinha pirado de vez. O mocinho escrevia "Oi, tudo bem?" e eu já achava que aquilo era uma declaração de amor. Várias pessoas tentaram me convencer que eu não passava de uma garota completamente iludida, não tiro a razão de ninguém pois realmente era esta a situação; eu chorando de amores e o rapaz nem aí.

Em fevereiro de 2008 fui passar o Carnaval em Paris para visitar meus amigos e o Rabih nostálgico decidiu comemorar seu aniversário por lá. Ele então me convidou para almoçar assim que chegasse na cidade e eu fiquei desesperada achando que ele já queria me eliminar das suas atividades na França. Andrea, checked it!!! (Mulher é uma desgraça). Almoçamos num restaurante horroroso e depois caminhamos pela cidade por mais umas 7 horas conversando sobre tudo quanto é assunto. Num desafio idiota fizemos tattoos com as iniciais um do outro mesmo antes do primeiro beijo, o amor deixa a gente cego, eu me marquei que nem uma vaca segundo as palavras da minha mãe. Naquele dia ele tinha um jantar com seus amigos para o qual não fui convidada então nos despedimos com beijos tímidos no rosto enquanto eu entrava num taxi.


No dia seguite eu desfilei em Deauville com um rabo-de-cavalo alto para mostrar a todos o meu R no pescoço, inicial de um mocinho que até então não era absolutamente nada meu. Diga-se de passagem: que nem chum! pra mim. Neste mesmo dia à noite jantamos juntos num pequeno grupo de amigos e conversamos e conversamos e conversamos... Depois todos nos mudamos pra um lounge bar e mais conversa até que o mocinho pega no meu braço e diz:

- Tenho um presente pra te dar mas não aqui na frente de todos!

Quase morri de curiosidade!

Mais amigos (dele) chegaram no bar e fomos juntos à uma boate. Lá chegando, demos de cara com sua ex-namorada então ele agarrou a minha mão e fugimos para um outro lounge perto dali. Escolhemos uma mesinha no canto quando ele tirou do bolso uma caixinha de jóia e fez uma super declaração de amor, mesmo antes de abrir a tal caixa eu pulei por cima da mesa e o agarrei. Na manhã do dia seguinte seguimos cada um para o seu país de moradia e mais uma vez a sessão de emails recomeçou. 

O Rabih me ligou 4 dias depois do final de semana perfeito com mais declarações e resolvemos que ficaríamos juntos. Pedi demissão já no dia seguinte e cá estou eu na ilha com o meu libanês que passou a ter pra mim o nariz mais charmoso do mundo. Também descobri que sou chegadinha numa careca, tem mais área para ser beijada.

O rabih é extremamente discreto, esta é a cara que ele fez quando falei que a foto era pra pôr no blog. E, sim, ele é peludo !!!

Será que até os Sheiks sentem a crise?

Seguindo o vizinho Emirados Árabes, a ilha está abarrotada de shoppings. Claro que não temos nenhuma Fifth Avenue, Rodeo Drive ou Oscar Freire por causa do clima mas no quesito variedade não devemos nada a ninguém. 

O meu shopping preferido é o Moda Mall que está sempre às moscas pois além de não ter lojas árabes não há as que as árabAs gostam de gastar dinheiro. Elas compram tudo o que achamos mais cafona e por isso eu tenho certeza que as marcas mandam pra cá todo seu lixão universal, como se fôssemos um "país outlet". 

Modelo 3D da entrada do Moda Mall; o shopping fica dentro do WTC

Fui às compras semana passada e como sempre não tinha uma alma viva no lugar. Apenas banners gigantes indicavam promoções de 80% nas vitrines. 80% !!!! Fiz a festa sozinha nas lojas. 

Também há vantagens

Contei num outro post sobre o entregador da UPS e também a minha sensação de morar numa pulga de lugar no canto do mundo... Claro que viver em uma comunidade que está mais para bairro do que para país traz algumas vantagens. 

Não há taxas nem impostos para nada em Bahrain então comprar o que se quer pela internet é um paraíso (favor desconsiderar a taxa de entrega). Compro tudo e recebo no conforto do meu lar sem pagar nenhum centavo para o governo. Aqui pra você, ó, seu Sem-Dedo-Mindinho! 

Outro dia fiz uma compra grande na Victoria Secret's e quando confirmei o pedido o site deu pau e o meu endereço no Brasil se misturou com o meu endereço daqui. Passei dias ligando para o SAC e gastei horrores em ligações até que uma supervisora geral me disse que não podia fazer absolutamente nada. Então, era um mistério se eu receberia ou não a minha compra. 

Após uns 10 dias este esntregador da UPS me liga às 7 da manhã (DE NOVO!) pedindo meu endereço pois ele não tinha. Era final de semana (DE NOVO!) e eu estava de ressaca então disse ao homem que eu mesma pegaria o pacote na sede da empresa. 

Quando cheguei lá no domingo (a nossa 2º feira) o gerente me deu o meu pertence todo sorridente e contou que recebeu o pacote com um endereço inexistente então pelo meu nome consultou o governo e confirmou a minha existência no país, além do meu número de telefone, e me ligou. 

Provavelmente se eu ainda estivesse em São Paulo teria perdido o que tinha comprado pois quando quando uma entregadora iria confirmar as informações num pacote com um endereço inexistente? Ou pior, quando o governo iria informar qualquer dado numa cidade de mais de 12 milhões de habitantes? Tá vendo só quantas vantagens?

Uma rápida...

Dizem que o Tibet é o telhado do mundo e eu digo que Bahrain é o canto, tudo chega nesta pulga depois. Quando a crise mundial no segundo semestre de 2008 estava deixando muita gente desesperada aqui éramos um "nem te ligo farinha de trigo". A explicação local era o isolamento da ilha em relação ao resto do mundo - não que eu me sinta tão isolada assim - e por isso sentiríamos apenas marolas.

Outro dia vejo algumas almas fofocando sobre a desgraça alheia. Aparentemente duas grandes companhias da região vão demitir juntas 4 mil funcionários no total. Ninguém ainda perdeu o emprego mas a sombra da crise está mais perto.

Como eu disse, moro no canto do mundo onde tudo chega depois. Demora... mas um dia chega!

Haja paciência

A qualidade dos empregados aqui é uma desgraça e não importa muito a posição profissional de cada um a situação é quase sempre MUITO ruim. Tenho várias histórias para contar que vão desde o entregador da UPS até a minha gerente do banco. Após estes meses morando em Bahrain e convivendo com sua catástrofe eu aprendi a rir de tudo o que me acontece porém no começo foi duro me adaptar, principalmente quando se vêm da "cidade grande".

Embora o dinheiro tenha 5 vezes o valor do nosso Real, a verdade é que Bahrain é um país barato e consequentemente também é a mão-de-obra local, Dubai é caríssima em comparação com esta ilhota. Por causa disto a importação do "labour" não é das mais minuciosas e concluo que só os pobres coitados que não são aceitos em mais nenhum lugar do mundo vêm parar aqui.

Quando casei, minha querida amiga Serena que mora em São Paulo, me mandou através da UPS flores SURPRESA. Eu nem desconfiava de nada e um dia às 7 horas da manhã o entregador da UPS me liga e diz:

- Dona, onde é a casa da senhora? Tenho o endereço mas quero indicações. 

Claro que eu estava dormindo pois era no meio do final de semana às 7 da matina mas como o rapaz não se apresentou ao telefone eu perguntei quem falava:

- É o entregador da UPS, eu tenho um presente surpresa para a senhora que são FLORES !!!!

Não tô de sacanagem, isto foi exatamente o que eu ouvi.

Quanto a minha gerente do banco...

Abri minha conta no Citibak faz apenas 8 meses e já mudaram o meu gerente pelo menos umas 5 vezes desde então. Semana passada esta mocinha INDIANA chamada Ashwini me ligou para se apresentar e muito simpática marcou um chat para nos conhecermos. Dei o endereço do meu escritório com as devidas indicações e principalmente o nome do condomínio onde nós estamos (o endereço é dado pelo nome do prédio, casa, condomínio já que não há número).

No dia seguinte, a gerente estava atrasada para a nossa reunião fazia 2 horas quando me ligou pedindo o nome do condomínio e eu dei. Mais uma ligação da moça com a mesma pergunta e eu com menos paciência do que antes falei novamente. A filha-da-mãe me ligou mais 3 vezes querendo saber o nome do condomínio e na última ligação eu sugeri:

- Por que a senhora não anota o nome? - esqueci de mencionar que se chama Ryadi Villas, difícil não? 

- Hã?!? Esqueci que dava pra anotar. - ela respondeu com a maior naturalidade.

Isto sem falar o quanto a mocinha se atrasou pois não conseguiu lembrar as indicações referentes ao caminho que lhe dei pelo telefone.

Cartão de Visita da minha gerente; ainda por cima ela é gerente de relacionamento com o cliente.

Sunday, July 19, 2009

No final... tudo acaba em comida

Como já tinha notado no Brasil, na casa dos meus amigos descentendes de árabes tudo se passa ao redor de uma bela refeição e aqui em Bahrain não podia ser diferente. Tudo é "mangia che te fa bene" e todos passam o dia "mandando ver" pra dentro do corpo, nunca vi tanta comida em toda a minha vida. É muito comum ver obesos comendo por 3 e pegando tudo com aqueles dedinhos redondos que mais parecem bisnaguinhas. No final, por causa do thobe eles acabam parecendo baleias belugas porém exemplares acima do peso se considerarmos a proporção. Prefiro nem me dar ao trabalho de falar sobre a qualidade dos alimentos na região já que a coisa mais saudável que se pode achar no cardápio dos restaurantes é uma porção pra 1 pessoa de batata frita que na verdade serve 4 (dependendo da nacionalidade, claro!).

Eu sempre fui boa de garfo e desde pequena sempre mostrei um interesse especial pelas mais diversas cuisines, com 6 anos já preparava o meu próprio kibe cru e com 7 já manuseava muito bem os hashis japoneses. Talvez tenha sido por isso que engordei 9kg num piscar de olhos em apenas 6 meses e fiquei horrorosa com giga bochechas. Encarei dois grandes obstáculos no país para eliminar a minha gordura pessoal; o primeiro foi arranjar uma academia boa num país onde o bonito é ser gordo e o segundo encontrar uma permitida para mulheres (aqui é separado) numa cultura onde a esposa tem que "encher a cama" - traduzindo, que cubra a cama de banha. "Academia boa" foi impossível todavia me matriculei numa em frente ao meu escritório do outro lado da rua, nela arranjei uma personal trainer e todo dia na hora do almoço lá vou eu "apanhar" desta filipina louca que eu mesma contratei.

Como comida aqui é sempre o principal personagem... A primeira coisa que se vê quando se entra nesta academia é o balcão da recepção coberto de bombonieres recheadas de bolos, muffins, pães e outras guloseimas. Já confirmei, nada é diet ou light.

Lei de Murphy; só porque eu fui tirar as fotos hoje o balcão não estava abarrotado de calorias

- Pra quê? - foi a resposta que eu ouvi. Então a recepcionista te dá a chave do locker e pergunta se você aceita um "agrado".  

- Não, muito obrigada! O meu pneu já está bem calibrado. 

Eu me pergunto, em qual outro lugar no mundo a malhação começa pelo estômago com a ingestão de 2.000 calorias de pura gordura trans? Tenho aguentado firme e vários quilos perdidos depois não me lembro da última vez que estive tão em forma. UFA!

Detalhe das bombonieres do dia; reparem na cara da recepcionista se preparando pra me oferecer comida

Saturday, July 18, 2009

OK !!!

Quer coisa mais irritante que aquele cachorrinho balança-a-cabeça-boba enfeitando o carro da frente balançando-a-cabeça-boba enquanto estamos presos no trânsito? Já vi todas as versões possíveis do tal boneco e sempre tive desejos assassinos quanto ao pobre brinquedo. Mais eu vejo este cachorro mais eu detesto o balança-balança. Mudar para Bahrain me fez um bem enorme; eu nem tenho que lidar com o chacoalha-chacoalha e nem ver o "presidente companheiro" na televisão mas... em compensação... uma porcentagem da Índia está aqui e ela é significante.

Não é que eu seja preconceituosa com este povo, é apenas uma questão de irritabilidade. Ninguém me tira da cabeça que estes cachorrinhos, gatinhos, sapinhos, VIADINHOS... de trânsito não foram inspirados nos indianos. A novela da Glória Perez está aí e não me deixa mentir.

No começo, ver todos estes cidadãos mexendo suas cabeças de um lado para o outro enquanto falam pode ser engraçadinho e "bonitinho" mas após alguns meses é de arrepiar os cabelos. Eu sei que é cultural e extremamente normal mas... na Índia, seu Shiva, não em Bahrain, seu Ganesh! Se fosse apenas o balança-balança quem sabe eu até aguentasse porém o gesto sempre vem acompanhado de um sorriso tímido que logo entrega a falta de compreensão do que está sendo discutido. De novo insisto, se fosse apenas o mexe-mexe mais o sorriso tímido eu estaria feliz... Acontece que eles adicionam um OK! ao conjunto da obra. Este OK! também já é demais, camarada indiano! Pode ser discussão, resposta ou pergunta e o OK! tá lá sem a menor eira nem beira. 

Você pergunta:

- Entendeu?

O indiano responde:

- OK! - chacoalhando a cabeça e sorrindo. O coitado entrega que não entendeu absolutamente nada.

Você pergunta:

- Até o final da semana o trabalho estará pronto?

O indiano responde:

- OK! - mais sorriso e mexe-mexe. Automaticamente você reza para receber o material finalizado pois com a experiência adquirida você sabe que não há significado algum nesta resposta.

Você pergunta:

- O céu é verde ou roxo?

O indiano responde:

- OK! - neste momento você já está vermelho de raiva e se perguntando porque ainda se dá ao trabalho de ficar nervoso.

E assim segue a vida por aqui com a comunidade de Vishnu. O negócio é relaxar, aceitar que o molejo faz parte e só se preocupar quando você começar a exalar curry e balançar a cabeça. 

(estou fazendo uma compilation de vídeos pra mostrar que não tô exagerando. Assim que acabar coloco aqui no blog)

Talvez já esteja na hora de voltar...

Hoje xeretando as fotos no celular do Rabih encontrei esta foto, confesso que fiquei meio assustada !!! 

Regata com dizeres bordados em paeté ... O que será a seguir? Capa de celular cravada com strass? Socorro !!!

Hummm... Já tá muito influcienciado, acho melhor voltarmos pra Paris rápido.

Friday, July 17, 2009

Filho de quem?

Talvez antes de Osama bin Laden eu já tivesse ouvido ou até mesmo lido o tal "bin" no meio de um nome árabe. Nunca me questionei da procedência até reparar nas placas com os nomes das ruas e avenidas. Antes do último sobrenome (pelo menos do eu achava que era um) há sempre um "bin".

A partir daí comecei a prestar atenção em todos os nomes que lia, inclusive nas revistas "caras nas arábias". Nas legendas das fotografias com a família real Bahraini o sobrenome nunca era o mesmo mas o "bin" era figurinha carimbada. 

Foi então que o Rabih desvendou o mistério de uma mesma família com tantos nomes distintos... "bin" nada mais significa que "o filho de" e é sempre acompanhado do nome do "pai de". Portanto Osama bin Laden é apenas o filho de Laden assim com eu seria Andrea bin Yara.


Sei que a foto não está muito boa mas queria mostrar o BIN... Shaikh é o nosso sheik mas fala-se aqui "chér", Isa é o filho do Salman. Simples assim...

Thursday, July 16, 2009

A primeira impressão é a que fica?

Aterrissei em Bahrain pela primeira vez em março de 2008 às 3h30 da manhã depois de um vôo com duas escalas e várias horas. Eu sabia que o Rabih estaria me esperando no desembarque então queria causar nele uma impressão WOW ! e após tomar um pseudo banho na pia do toalete do avião saí do portão me sentindo toda poderosa. O nosso reencontro foi ótimo e durante os 5 dias que passei aqui o mocinho me conquistou ainda mais. Ele preparou atividades e também contratou um motorista/guia local para me levar/mostrar todas as atrações turísticas. 

No primeiro dia, terça-feira, o Rabih me levou a um spa no meio do deserto chamado Banyan Tree para passarmos o dia à borda da piscina com direito a massagens, body scrubs e afins. Ao voltarmos para casa ele cozinhou e comemoramos meu aniversário de 29 anos. No dia seguinte bem cedinho o motorista/guia veio me buscar e acabamos vendo tudo o que tinha para ser visto no país em menos de 1 dia. Tá certo que não há muitos pontos turísticos mas... Na quinta-feira eu já estava liberada para ir às compras enquanto o Rabih trabalhava suas 12 horas diárias. 

A sexta-feira já era final de semana; normalmente os dias de descanso muçulmanos são quinta seguida da sexta mas muitos países árabes mudaram estes dias para sexta e sábado para se adaptarem um pouquinho ao Ocidente. Passeamos para cá e para lá, mais precisamente de um shopping pro outro, e eu vestia um vestido curto à la Brasil. Tinha pesquisado muito na internet antes de vir e todos falavam quanto Bahrain era um país liberal em relação aos outros países da região. Interpretei que era possível mostrar consideravelmente as pernas e só realizei o erro quando já estava sendo seguida por sauditas fantasiados com seus thobes. Nem me importei, a vantagem de ser turista é poder dar uma de mané e continuar em frente, poucas horas depois eu estaria usando um mini shorts toda feliz da vida. 

Na nossa última noite fomos numa boate dançar com amigos. Era de madrugada e a noite estava perfeita então ao deixarmos a festa ficamos namorando um pouquinho no carro sem a capota. Eu estava com a cabeça apoiada no colo do Rabih e apenas conversávamos quando este carro de polícia encostou do lado e os oficiais desceram para falar com a gente. Todo mundo só se comunicava em árabe e eu estava lá boiando. Mais um carro de polícia chegou e mais oficiais estavam discutindo com o Rabih algo que não me cheirava muito bem. Na verdade estava fedendo e muito. O meu namorado deu uma de macho man e disse para eu não me preocupar que ele já estava resolvendo tudo mas eu não conseguia relaxar pois já estávamos cercados por 8 policias divididos em 4 viaturas. 

Árabe gosta de debater e mais de uma hora depois eu estava indo pra delegacia dentro do camburão lacrada com vidro blindado além de grades, grades !!!!. Um policial estava ao meu lado e a única coisa que ele sabia falar em inglês era "don't worry" com um sorriso no rosto. Como assim não me preocupar? Eu estava de mini shorts num país muçulmano, presa num camburão em direção ao departamento de policia, com um monte de gente falando uma língua que eu não entendia nada e ainda por cima o meu "macho" namorado estava com cara de cuica do outro lado do carro, já que não fomos autorizados a fazer esta viagem lado a lado. 

Pois bem, na primeira visita a este país liberal fui detida por estar conversando com um homem dentro de um carro a céu aberto que não era o meu marido ainda. Nos deram o maior chá de cadeira e só nos liberaram após eu simular um choro falso e gritar que queria minha mãe. O choro tinha funcionado em Paris (ler o post São Paulo-Paris-Bahrain) então o considerei como um possível recurso à liberdade. Funcionou, fomos liberados e resgatados pelo nosso vizinho que gentimente levantou da cama às 6 da manhã para ir nos buscar. Este foi o meu primeiro momento bem feito em Bahrain e a última vez que ouvi o Rabih dizer em tom macho-man que resolveria uma situação complicada. 

Esta foto foi tirada 5 minutos antes do "xadrez"; e ainda por cima estávamos bebendo, reparem na garrafa de stelinha na minha mão

Wednesday, July 15, 2009

Inshallah ! (se Deus quiser)

Como todos os outros países da Golfo, Bahrain é muçulmano e Allah é o Topo Poderoso deles. Para nós é muito difícil entender que a religião dita as regras do Estado que nem nas épocas áureas da Igreja Católica.

Tudo é Allah; Ele está em tudo e em todos e é também a desculpa pela qual o pessoal daqui é meio preguiçoso. Teoricamente eles rezam 5 vezes pos dia e devem parar tudo (tudo = trabalho) por pelo menos 20 minutos a cada reza, sem contar o tempo que eles gastam arrumando o tapetinho no chão. Parar para rezar eles páram mas pelo o que tenho visto não estou tão certa se eles rezam pra valer.

Allah que decide as regras do jogo e que decide se o taxi que você pegou no aeroporto te levará ao conforto da tua casa. Você entra no taxi, diz pra onde quer ir e o motorista logo mete Allah no meio:

- Inshallah !

Outro dia o Rabih já estava com saco na lua da tal expressão e quando ouviu o pobre do motorista dizer "Inshallah" explodiu:

- Inshallah nada !!! Meu amigo, Allah não tem haver com isso. Sou eu que quero ir pra minha casa e agora !!!

Rabihallah...

Inshallah escrito no elegante, porém em versão simplificada, THULUTH; um dos estilos da caligrafia árabe.

Saturday, July 11, 2009

Momento Bem Feito

Lá em casa sempre tivemos interesse por diferentes culturas e consequentemente viajamos em busca delas. Leia-se como casa minha mãe e eu pois meu pai se aposentou de seu título de globe trotter em 2004 quando ficou entalado numa das pirâmides em Giza. Há três anos viajamos pela primeira vez apenas nós duas para conhecer a antiga Indochina além da Tailândia. Foi uma viagem fantástica e dela surgiu o "momento bem feito". 

Em Luang Prabang, segunda cidade mais desenvolvida do Laos com apenas uma rua asfaltada, seguimos para a capital Vientiane, muito menos desenvolvida que a nossa Praia Grande, num avião da cia nacional todo pintado com motivos florais. Esperando para a decolagem noto minha mãe inquieta dividindo seu olhar astuto entre uma revista e eu. Depois de alguns instantes sem se concentrar no que estava lendo ela tomou coragem e me perguntou: 

- O que você diria se estivesse assistindo o Jornal Nacional quando o Willian Bonner anuncia "Boa noite, um avião caiu hoje no Laos matando todos os passageiros, duas brasileras estavam a bordo. Mais informações a seguir ainda nesta edição" ? 

E eu : 

- Mãe, pelo amor de deus, sei lá !!! 

E ela :  

- Eu sei o que diria "bem feito pra estas duas brasileiras, quem mandou se enfiar neste fim de mundo" !!! 

Juro! Foi exatamente assim que "momento bem feito" entrou no nosso vocabulário e pus este post pois já passei e sei que ainda passarei muitos deles aqui. Afinal, quem mandou eu me enfiar neste fim de mundo?

A carinha de pavor da minha mãe ao entrar no avião antes do nascimento do "momento bem feito"

Friday, July 10, 2009

São Paulo - Paris - Bahrain

A primeira vez que vim ao Bahrain visitar o Rabih foi uma novela e eu estava muito ansiosa após esperar um mês desde o nosso último encontro. Comecei a viagem com um final de semana em Paris, sempre Paris, para comemorar meu aniversário com amigos sem o mocinho pois ele tinha que trabalhar (a turma do banco onde ele trabalha é a única que conheço aqui que realmente trabalha...). Chegando no CDG aquela esteira maldita rodava, rodava e rodava... e as pessoas iam pegando suas bagagens e a minha mala nada ! Fui ao escritório denunciar o sumiço e o monsieur de lá me chamou de impaciente e mandou eu voltar pra esteira. Voltei e fiquei esperando até que ela parou e o técnico me olhou e disse "hum... desolé". 

Mais uma vez me dirigi ao escritório da Air France e a mademoiselle da vez pediu o comprovante da bagagem e para a minha surpresa eu imediatamente me transformei no Mr. Wilson Perez, equatoriano, indo de Buenos Aires para Barcelona com escala em São Paulo e Paris, voando pela TAM (???). A funcionária bisbilhotou todos os arquivos eletrônicos da aviação daquele dia e da véspera e descobriu que este senhor latino não despachou nenhuma mala e muito menos que EU tinha embarcado no avião na noite anterior. Ela olhou para mim e mais uma vez veio o "hum... desolé", disse que a minha mala estava desaparecida (até então, novidade!) e que seria praticamente impossível reavê-la já que eu nunca estive no avião e o Mr. Perez era o "mais novo proprietário legítimo". 

Foi aí que me desesperei, estava indo encontrar o Rabih numa ilha com temperatura média de 30ºC o ano inteiro e em Paris era meio de março portanto um puta frio em comparação. Onde eu ia encontrar roupas de verão naquela época do ano? Mas nem com reza brava. Eu queria estar linda pra ele e... não aguentei. Minha garganta fechou e eu comecei a chorar que nem uma galinha esganiçada na frente de todo mundo. Coitada da minha mãe que teve que me aguentar ligando de 5 em 5 minutos da França implorando para ela fazer alguma coisa. O máximo que conseguiu foi ouvir de um funcionário da cia francesa no aeroporto de Guarulhos que ele não podia ajudar pois eu não tinha voado.  

Eu chorava compulsivamente e a turma do escritório começou a ficar nervosa. Fizeram de tudo para eu parar até o momento que a mademoiselle não aguentou e recomeçou a procurar a minha mala no sistema do computador mais uma vez. Não sei até hoje se ela estava comovida com o drama ou era só uma dor de cabeça por causa dos berros e soluços. A última tentativa foi ligar para o diretor da Air France que por coinscidência estava no CDG. Ele, como "autoridade máxima", pôde ir nos confins do nada pequeno Gaulle e trouxe para mim uma mala linda, bela e preta! Era a minha querida. 

O diretor contou que aquela mala por não ter dono (ela passou de dois donos pra indigente) era suspeita e estava num depósito anti-bombas em quarentena!!! Fiquei tão comovida que distribuí beijos e abraços apertados além de convidar todo mundo para a minha festa de aniversário mas ninguém apareceu; acho q eles queriam distância de mim...


Bahrain, Barém, Bahrein...???

Já aprendi a lição, quando alguém me pergunta onde moro digo no Oriente Médio e se a próxima pergunta é "onde?" logo falo "perto de Dubai". No início ainda me dava ao trabalho de dizer Bahrain mas as mesmas perguntas fatídicas caíam sobre a minha cabeça : hã? onde mesmo? repete? ...

Não culpo ninguém por não saber onde fica este mini país-ilha no Golfo Pérsico coladinho com a Arábia Saudita; nada foi descoberto aqui, dos países da região "somos" um dos mais pobres, o petróleo e o gás natural já acabarm e o maior orgulho nacional é um rei que fazia duetos com o Michael Jackson. Mas Bahrain brilha uma vez ao ano quando sedia uma das etapas da Fórmula 1, era a única corrida do Golfo até que Abu Dhabi fez o favor de atrapalhar entrando para o mundial a partir deste ano.

Mapa do Golfo Pérsico, dentro do círculo roxo há uma mini ilha, Bahrain !

Somos mais ou menos um milhão de habitantes dos quais 50% (cada departamento federal informa um valor, fiz a média) são expatriados dos quatro cantos do planeta num território de 665 km2 no total, dividido em diversas ilhas - a grande maioria não habitada. As duas maiores e principais são Bahrain e Muharraq, a primeira é gigante em relação à segunda e mede 16 km por 48 km - pasmem, isto é um país e eu moro nele ! O clima é extremamente hostil e com certeza Deus não imaginou que alguma espécie animal fosse um dia viver aqui.

Reclamações à parte, Bahrain tem qualidades difíceis de se encontrar em centros urbanos. É como se morássemos neste big bairro onde todos se conhecem, no supermercado te chamam pelo nome com um sorriso, ninguém tem pressa pra nada, se trabalha pouco (meu marido que não leia esta parte) e se curte muito, mas muito mesmo, a vida. Me sinto morando numa cidade do interior com infra estrutura de São Paulo. Claro que tem dias que isso me deixa irritadíssima mas lembro que acordo às 9h30 da manhã para ir trabalhar, faço duas horas de almoço para ir à academia, passo algumas horas diárias do meu horário "trabalhístico" desenvolvendo projetos pessoais, deixo o escritório antes das 6 da tarde, saio toda noite... e depois tudo passa !!!



Wednesday, July 8, 2009

Me, my camel and I ...

Ahhhhhhh !!! Eu tenho um blog !!! Nunca imaginei que isto fosse acontecer, sempre achei que blog era coisa de nerd e aqui cá estou eu com meu blog recém saído do forno. A verdade é que só resolvi criá-lo depois de muito ouvir minha mãe, Dona Gnomo, buzinar no meu ouvido que eu deveria ter um diário. Tudo começou quando me mudei para Paris no comecinho de 2007, desde lá ela já insistia que eu deveria tomar nota das minhas histórias. 

Nunca achei necessário pois minha memória sempre foi fantástica e sei que eu, definitivamente, nasci com o gene de armazenar contos no cérebro (minha Tia Mara é o melhor espécime da família). Na Cidade Luz conheci este mocinho chamado Rabih que mais tarde viraria meu marido numa cerimônia muiiiito longa - mas isto vai ficar para um outro post... Em julho do mesmo ano, ele mudou a trabalho para Bahrain ou Cameland ou Miniland ou ainda se você preferir Piadaland. 

Após 6 meses de e-mails para cá e para lá, o que nunca foi somente amizade deixou de sê-la ainda mais e decidimos nos encontrar em Paris em fevereiro de 2008. Desde então não nos desgrudamos mais mas apenas no sentido figurativo da palavra já que eu me encontrava em São Paulo, Brasil, e ele em Amwaj Islands, Bahrain. Passei então a visitá-lo todos os meses por pelo menos uma semana e em 2 de agosto de 2008 me mudei para o Oriente Médio com toda a minha "tralha". 

O choque cultural é tão grande que meu HD interno não estava mais suportando os feeds diários então resolvi ceder e o blog foi criado com mais de um ano de atraso (segundo Dona Yara). Aqui contarei todas as minhas (nossas) aventuras e desaventuras atuais, passadas e/ou futuras nesta terra de areia que está tão IN no momento. E se alguém resolver passear por estas bandas não hesite em aparecer por aqui em Bahrain, eu e Rabih ficaremos mais do que contentes em receber pessoas que não se vestem com thobes e abayas ! :o)

Diretamente de Paris para o deserto